sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

RIO DE JANEIRO E O MUNDO: SOMOS, TODOS, VÍTIMAS

Quem pode entender o que está acontecendo no Rio e em tantas outras cidades brasileiras e do mundo?
Será que devemos aceitar as tentativas de explicação que são, levianamente , soltas quando tais tragédias acontecem?
Desculpem-me os cientistas, técnicos em planejamento e estudiosos dos fenômenos da natureza. Por a culpa em alguém é muito fácil. Dar um diagnóstico sob olhar de fora é muito cômodo. Mas fixem-se na situação desse povo que está sofrendo as conseqüências. Não olhem só com a compaixão e consternação do acontecido. Repito. Isso é fácil. Voltem atrás um pouquinho. Visualizem o passado e tentem entender o contexto. Que pai de família deixaria de aplicar o único recurso que conseguiu economizar, entre o pão das crianças e a roupa que vestem, para construir um “casebre”, um “cantinho”, num terreno barato? Quem lhe convenceria de que não deveria fazê-lo? O poder público? E qual cidade brasileira tem, em suas tentativas de regularização habitacional, alcançado a totalidade de ações necessárias a isso? Quem venceu todas as barreiras, burocráticas, temporais, climáticas e geográficas e conseguiu sucesso absoluto em seu planejamento urbanístico?
Sabemos que todos esses problemas têm uma fonte originária e infelizmente decorrente de falha humana. Porém, como sabemos, tudo isso se deve a questões que remontam  ao tempo e não é de forma imediata que será resolvida.
Então de nada adianta culpar o Estado ou mesmo àqueles que se estabelecem em áreas de risco, na maioria das vezes irregular e clandestinamente. E nesse último caso, eu perguntaria, que governo conseguiria, demovê-los depois de estabelecidos? Ou ainda que governo têm à pronta entrega, uma casa a oferecer a uma família, em local seguro, regular e definitivo, quando um desses, pobre pai de família , se estabelece num local impróprio? Se na maioria das vezes o poder público se vê, também ,  sem condições de escolher entre o certo e o possível.
Sabemos todos que nosso país sofre, historicamente, com a falta de planejamento, com a falta de cultura, com a falta de competência de seus dirigentes, desde o mais alto até o menor escalão.
Historicamente compreendemos o crescimento dos problemas sociais que nos assolam. Somos vítimas, todos. Governo e Sociedade. Porque da sociedade advém o governo. Uma sociedade é formada por indivíduos que se formam, nada mais nada menos, do meio em que sobrevivem socialmente. Da sociedade decorrem os problemas. Pois, de acordo com que é orientada, age.
Se o governo mantém uma política econômica, social e educação tal, é porque a sociedade convencionou que assim poderia ser. Então comecemos pela educação, que forma a consciência do individuo.
Comecemos por aqueles, que por razões óbvias de exclusão, não tiveram acesso a ela. Esses fatalmente nunca terão consciência dos males que suas ações causam ao meio, à natureza, à sociedade. E muitos desses chegam ao governo.
Vamos, agora, para aqueles que tiveram, sim, acesso a educação. Foram formados e ensinados a ter sucesso pessoal e profissional, sob a ótica, sempre, capitalista, que nos rege. Também, esses, não terão nunca consciência de que seus atos incidem justamente no meio em que vivem. Destes também, saíram aqueles que chegaram ao governo.  
O Estado então governa para essas pessoas formadas, principalmente, por essas duas fontes.
Então, nesse contexto, alguém pode ser culpado ou julgado por suas ações? Alguém pode pagar por um crime que seus progenitores cometeram? Alguém pode ser penalizado, se age exatamente como todos a sua volta agem? Você condenaria uma mãe de família zelosa que não economiza água para manter o lar limpo? Você condenaria um pai agricultor que põe fogo no roçado, pra que a próxima colheita lhe renda algum fruto? Você julga o motorista de caminhão que paga uma “cerveja” para o guarda de trânsito não aplicar-lhe a multa? Então como julga o político que aceita propina para aprovar um projeto? O governo que não consegue estabelecer uma boa política de preservação do meio ambiente? Você, a mãe de família, o agricultor, o caminhoneiro, o guarda, e esse governo, foram todos, formados sob o mesmo regime, sob a mesma cultura (ou falta dela). O dano, a responsabilidade é que varia de menor para maior escala, mas não variam os níveis de cultura daqueles que ocupam esse ou aquele lugar.
Então, meus queridos, que Deus salve a humanidade e tenha piedade das vítimas, tanto do Rio quanto do mundo.