sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Bruno Assassino X Bruno Vítima

Agora que a poeira começa a baixar e as coisas parecem menos confusas, pelo menos para a justiça que decretou a prisão dos oito envolvidos no desaparecimento de Eliza Samúdio, acho que posso discorrer sobre o assunto já que, no meu caso, não será um comentário sobre o caso em si, mas algumas considerações e reflexões que me ocorrem ao longo desse processo, aliás, acho que fui levada a pensar nisso logo durante as primeiras notícias que, confesso, torcia para que o caso tomasse outro rumo e o então “herói”, Bruno, continuasse sendo nosso herói. Digo nosso, não por que faço parte da torcida do Flamengo, longe de mim, sou Palmeirense de coração. Mas porque Bruno representava a típica figura do menino pobre que venceu pelo talento nesse seleto mundo futebolístico. E convenhamos a sua simpatia ganhava admiradores até de outras torcidas, como no meu caso.
Então quando as coisas foram se desenrolando, e embora as noticias fossem confusas e as investigações desastrosas, fui obrigada a admitir que, sim, nosso herói havia se transformado num vilão, e não um vilão qualquer, um vilão desprezível pelos atos a ele atribuídos. Um monstro!
Culpabilidade à parte, fui levada a pensar que, alguma coisa tem que ser levada em consideração para explicar o que leva um ser humano a praticar atos como esses. Porque a maldade, por si só, não é auto-suficiente para instalar-se na mente e na vida das pessoas, tem que haver um fato desencadeador, algo que justifique essa tendência ao mal, pois acredito, ainda, que o ser humano é, essencialmente, bom.
Pensamos no Bruno bebê, devia ser ele um bebezinho lindo, como todos os bebês, devia causar nas pessoas a vontade de acalentar, de proteger. Devia ser frágil e delicado, meigo e engraçado. Façamos um esforço, transformemos a imagem perversa e monstruosa do Bruno de hoje, na imagem angelical e graciosa do Bruno bebê. Quem é que poderia prever que ele se transformaria nesse pré-julgado assassino que vemos hoje na tv? Temos que considerar que, em algum momento, algum acontecimento ou sucessivos fatos traumas e atitudes, acabaram mudando essa figura, alguma coisa aconteceu para que o menino Bruno fosse moldando sua personalidade a ponto de se tornar uma pessoa marginal.
Existem muitas teorias que garantem que o meio transforma, modifica e até determina o caráter do indivíduo. Sabemos que Bruno não teve uma infância muito feliz, sabemos que o menino pobre foi abandonado muito cedo pela mãe, que a estrutura familiar a que ele foi submetido não contribuiu muito para sua formação psicológica. E derrepente o garoto marginalizado se torna um fenômeno no futebol. A ascensão meteórica lhe dá tudo que a vida lhe negou. Fama, dinheiro, ostentabilidade, mulheres, “amigos”. E ele se vê, deslumbrado, nesse mundo em que, derrepente, ele pode tudo. Não lhe é dado limites. Ele é paparicado, adulado, ovacionado. Ele se sente o dono do mundo. E todo mundo a sua volta confirma essa convicção.
Pobre menino tolo, eles confirmavam porque você era o cara, você era a bola vez. Você bancava as festas, a farra, a vida boa, as oportunidades, você era a oportunidade. Para a Eliza e para tantas outras “marias chuteiras”, você era a oportunidade. Ninguém parou para pensar que esse menino não teve uma vida escolar normal. Ninguém parou para pensar que esse menino não teve modelos de conduta, no seio familiar, para se espelhar. Ninguém parou para pensar que quando ele deu uma entrevista defendendo um colega que batia na mulher, já estava mostrando a cultura em que foi (des) orientado, e talvez, se ali alguém tivesse ligado as antenas para um possivel desvio de contuta, e feito alguma coisa, e orientado de alguma forma, tudo pudesse ter sido evitado. Ninguém parou para pensar que ele não teve pilares morais para se firmar quando sua personalidade era formada, moldada aos moldes de que ele dipunha..
Simplesmente jogaram a fama e o poder sobre uma mente fraca. É como construir uma casa sem alicerces, sobre a areia. Uma hora cai. E a queda do Bruno foi da pior maneira possível. Ele se afundou na lama da maldade, que veio a ele como vem o vento sobre a casa mal fundada. Ela cai.