sexta-feira, 15 de junho de 2012

Óculos


Chegou o dia fatídico. Eu e minha querida filha Sarah, esperamos um mês para ouvir a notícia que temíamos. "Vocês precisam de óculos". Eu disfarcei muito bem até agora, sem dar o braço a torcer, ou melhor, as orelhas à acomodá-los. Disfarcei as dores de cabeça, que nas minhas sábias desculpas era "enxaqueca". Disfarcei o olhar forçado quando, tentava distinguir rostos "embaçados" na rua, e ainda levei fama de "metida", já que não via bulhufas de longe e acabava por não ver conhecidos, passar "de reto", não cumprimentar. Disfarcei a falta de reflexo no trânsito, levei fama de "barbeira", só por alguns arranhões nos carros dos outros e alguns outros no meu. Disfarcei a tentativa de decifrar as palavras no quadro negro (agora branco) da faculdade, levei fama de "Caxias", sentada na primeira fila, quase no colo do professor, como fez questão de frisar a turma do fundão. Tudo isso, meus queridos, porque queria disfarçar a pior das desgraças para uma mulher de trinta. Não, não vou usar óculos, isso vai “gritar” que tenho mais de trinta. Não! Continuo cega, mas com carinha de vinte. E eis que para minha surpresa e total desconcerto com essa atitude infantil, minha filha me aparece com os mesmos sintomas: dores de cabeça, e não era "enxaqueca"; visão embaçada, não enxerga as pessoas na rua, e ela não é "metida"; "barbeira" ela também não é (pode vir a ser se a genética der uma força), mas tem alguns anos ainda para pegar num volante; senta na primeira carteira e não é..., bem aí tenho que admitir, ela é CDF, melhor da turma, afinal é minha filha, modéstia à parte; ela não tem que querer parecer ter vinte porque tem onze! Bem aí, há controvérsias, porque menina de onze, doze quer ter dezoito, vinte, então...Mas o fato é que, envergonhada, marquei a consulta e fomos em busca da verdade. Estamos cegas! Que venham os óculos, que de aparelho estranho até ontem, para ambas, virou, hoje, acessório de moda, indispensável à uma adolescente antenada e à uma mulher moderna. Né filha.